terça-feira, 16 de setembro de 2008

O Reinado de Chatô

Mesmo carregando o poder de ser dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand não escapou à ira da ditadura varguista. Na verdade, os Diários Associados eram a subversão materializada em jornais. O gênio intempestivo e, em certo ponto, vingativo de Chateaubriand marcou as páginas dos Associados no confronto que ele manteve com o governo e com outras personagens que tentaram derrubá-lo.


De certa forma, Assis Chateaubriand não conheceu a palavra ética e sempre usou de canais um tanto quanto escusos para alcançar seu maior objetivo declarado: ser dono do maior número de jornais possíveis. A chancela “rei do Brasil” cabe muito bem a esse homem. Influenciando políticos e jogando com os interesses alheios, Assis Chateaubriand defendia, na verdade, apenas os seus objetivos. Fugiu do exílio antes de chegar lá. Construiu um império da comunicação com o dinheiro dos outros e com os favores do Estado getulista.


O poder da imprensa no período se representava na figura de Chateaubriand. Uma imprensa sem valores morais rígidos, nem pretensões de tê-los. A diferença entre aquele tempo e os dias de hoje está, basicamente, na forma como a imprensa usa seu poder. Se Chatô já influenciava pessoas e usava seus jornais para agredir outras, hoje a imprensa não é tão direta. A troca de favores com o Estado ainda persiste e, provavelmente, jamais deixará de existir. Pouca coisa mudou. A sutileza superou a ira nordestina insensata.



Mais aventureiro do que grande jornalista, assim Bernardo Kucinski descreveria Chatô décadas depois de suas empreitadas. Paixão por uma mulher décadas mais jovem, gosto pela demonstração de superioridade, calotes incontáveis na praça e ataques obsessivos aos inimigos são características marcantes na leitura do livro de Fernando Morais. Mas, Chatô também era visionário. Os altos investimentos no desenvolvimento do rádio e da televisão mostram que a aventura o guiou a grandes empreitadas.



Interessante pensar que, espertamente, Chateaubriand chegou do nordeste e se infiltrou na alta sociedade carioca e usou o dinheiro desses ricos para financiar seus interesses. Ele não nasceu rico, nem tinha família tradicional. A persuasão marcou desde o início suas conquistas. Aproximou-se de grandes anunciantes em jornais e, posteriormente, passaria a somar a seu império essas grandes empresas. Barganha e chantagem sempre andaram juntas na arte de negociação adotada por Chateaubriand. Se não funcionasse nem assim, ele poderia baixar mais um pouco o nível, contratando até pistoleiro, como no caso de Oscar Flues.


Do império de Chateaubriand, ainda temos marcas na nossa cultura de comunicação. O poder da imprensa ainda supera quase tudo no país. A oligarquia da mídia se mantém firme e o poder ultrapassa as fronteiras da informação e torna-se estratégico no desenvolvimento do país.


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