segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A Casa de Sandro - Gustavo Beck

A Mostra Aurora reúne filmes de diretores estreantes dentro da Mostra de Cinema de Tiradentes. Esta modalidade competitiva existe desde 2008, quando foi instituída a formação de um Júri Jovem, composto por jovens entre 18 e 25 anos. Além do Júri Jovem, a mostra tem o Júri da Crítica, formado por renomados teóricos, estudiosos, críticos e cineastas.

Na última Mostra Tiradentes, encerrada no dia 31 de janeiro, tive o prazer de integrar o Júri Jovem. Além da mordomia de ter hospedagem, alimentação e transporte por conta da Universo Produção, conheci quatro jovens jurados muito promissores no mercado cinematográfico e realizadores de grande talento e amor pelo cinema.

“A Casa de Sandro” foi, com certeza, um dos filmes mais polêmicos de todo o festival. E a batata-quente caiu na Mostra Aurora. O Júri Jovem foi drasticamente dividido após a exibição deste longa-metragem. Foi amor e ódio. Victor Guimarães apresentou-se como defensor incondicional de Beck. Distanciamento, pouca comunicação verbal, um documentário que não apresenta seu personagem. Ao contrário, Gustavo Beck propõe esconder seu personagem, deixando-o longe da câmera, em planos de quase um minuto.



O incômodo na frente da tela era tão grande, que metade do público deixou a sala antes do final. O maior desconforto era esperar pela próxima cena, quando todas eram intermináveis. A montagem deu certo caráter contemplativo ao vídeo, mas segundo Beck a proposta não é essa. Para ele, a palavra contemplação não é adequada. O correto seria observação à distância.

Para a doutoranda e professora da PUC/MG Roberta Veiga, membro do Júri da Crítica da Mostra Aurora, “A Casa de Sandro” é uma crítica bem construída à sociedade voyeur que se construiu no final da década de 90. Orkut, Big Brother e outras artimanhas de exposição excessiva das pessoas são bem contrapostas pelo filmes de Gustavo. O próprio personagem Sandro, presente no debate sobre o filme, afirmou ver no filme uma estratégia “anti-comunicação”. Um pensamento talvez de vanguarda.

Quando conversei com Gustavo Beck confessei não ter gostado no filme, talvez por uma falta de sensibilidade. Mas, pra mim, a proposta do filme ficou mais na retórica do que na tela. Porém, consegui captar a intenção de discutir a invasão de privacidade, tão em voga atualmente. Por isso, fiquei especialmente feliz pela menção honrosa recebida do Júri da Crítica. Entre todos, admito ter sido com certeza o mais inovador, mesmo que não tenha arrancado suspiros da platéia, nem de mim.

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